Uma carta para a loucura!

No betume cravejado de pequenos pontos cintilantes, feito quebra-cabeças de encaixes impossíveis, habitam estrelas, peças espalhadas no infinito tabuleiro de um universo sem fim. Pois é, aqui estamos, existindo entre a ordem e o caos, entre a dúvida e a certeza, entremeados por ambiguidades loucamente necessárias.

E, se isso que lhe digo agora parecer mesmo loucura, acredite, é verdade. Afinal, dizer-se sã não passa de ilusória criação nossa, de bicho homem. E é nessa loucura, nesse estado tão imcompreendido, que as nossas verdades ululantes não são garantia alguma. Sem silogismos, a vida é uma loucura, uma verdade e vice-versa.

Amiga, ri disso e desse homem, sonhador que sou. Da minha crença de que um dia visitarei todas estrelas que enfeitam e iluminam o universo escuro. Ri de mim mesmo, do romântico altruísta, do sovina dos “nãos” que se acumulam n’algum canto dentro de mim. Ri do amor que se apresentou de tantas formas, tão puras, tão lindas e doloridas. Ri das vezes que disse “eu te amo” e que no fundo dizia: você me pertence. Ri do meu egoismo inocente e da desgraça que volta e meia mostra os dentes. Ri das minhas e das suas contradições sem fim, que passam, que mudam e silenciam no passado.

Ora, para você que me lê, digo que ri, mas também que chorei, não vou mentir. As vezes de tanto rir, outras o porquê nem sei. Dos comerciais de margarina e daquele adeus mudo para nunca mais. Daquela ideia de amor infinito que acabou, do incondicional sob condições. Das paixões não correspondidas, amargas e arrependidas. Ah, minha amiga! Chorei também do arrependimento, dessa ferida d’alma que não cicatriza. Também do estado de espírito que nunca alcancei, por ele chorei. Entremeado na multidão e na solidão chorei, nesses lugares onde me senti tão pouco. Chorei, inclusive, ouvindo a nossa canção, aquela que parecia nos conhecer tanto. Na diária paisagem repetidamente passante e nas leituras das mensagens guardadas, nos versos e nos inversos chorei rindo e ri chorando.

Mas, preciso te dizer que tudo daqui observo, desse ponto impreciso no universo onde vivo, choro e sorrio. E, costumeiramente, dou-me conta que meu olhar não me encontra. Desatento espiando tantos outros sós, nos seus mundos de faz de conta, são como espelhos de mim mesmo. Então, é aí que minha subjetividade existencial se apresenta:
– Prazer, me chamo Loucura e você?
Minha objetividade responde:
– Quanta coincidência meu Xará!

(batschauer)

Esta carta foi escrita a pedido de uma pessoa amiga, cujo contato nunca transcendeu a blogosfera, mas que por sua riqueza, naturalidade e carinho gratuitos, alcança um patamar de admiração e respeito mútuo tão raros em tempos de amores líquidos. Uma espécie de incodicionalidade que só nos engrandece e nos faz querer superar mais e mais as contradições da vida. Obrigado minha querida e admirável amiga Elaine Reis.

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Someone like us… London, UK Foto: Marcelo Pasqualin Btaschauer

 

9 respostas em “Uma carta para a loucura!

  1. Aiiiiii, que lindo!!!!
    ❤❤❤❤❤❤
    Marcelo a dinâmica dessa semana foi tão gostosa. Eu adoreeeeei! Tudo fluiu tão leve, mesmo sabendo que estávamos a lidar com nossas dores e sentimentos profundos.
    Não tenho como agradecer, mas posso repetir que me fez muito bem e eu adoreei!
    Tava sentindo falta de falar de amor nessa blogosfera! :DDDD
    Beijocooona

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    • Desculpa pela demora em responder, embora a mensagem não pedisse uma resposta necessariamente. Caminho arduamente trilhando a Filosofia da Tecnologia, como tema da dissertação. Qualificação próxima, tensão aumenta. Sem mais pequenas desculpas, digo logo que esse divã literário, terapêutico e saudável que ocorre sempre gratuitamente, é para lá de uma grata surpresa. O quanto resgata a autoestima, a autoridade sobre os sentimentos que flutuam num oceano de muitas e inconstantes correntes. Sim, agradeço muito por isso. Um abraço amigo, necessário e sem preço. Avançamos na direção de nós mesmos numa mutável autodescoberta e melhor, descobrindo que não estamos sós nessa estrada, mesmo aqui no universo digital, distantes da pena e do papel. Virtual ambiente, e de fato cheio de sentido: um virtual da virtude, de potência, do alcance onde nos abraçamos uns aos outros na imaginação e nas palavras. Super!
      Obrigado.
      Siga criando que sigo admirando.

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      • Querido, fique tranquilo! E desde já mentalizo boas energias para você, antes, durante e depois da qualificação, e para além do advento do mestrado.
        Tenho certeza de que você dará conta e que tudo transcorrerá bem.
        E, SIM, também tenho adorado as nossas trocas. Fazem um bem enorme e sempre se parecem com um abraço quentinho e macio, hahahahaha…
        Beijocona

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        • Saudações mocinha do badauê literário!

          Há um silêncio, um recolhimento, uma quietude escrita… momento de introspecção? Realinhamento? Talvez um luto necessário? Ou ainda, nenhuma das anteriores. Qualquer que seja (m) a(s) alternativa(s), espero que seja para superar as contradições que a vida nos apresenta. Uma volta triunfante, é uma boa expectativa. Esperamos sua presença, não suma.

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          • Hahahaha, vc é um querido!! Te adoro!! E acho que é tudo isso mesmo. Sua bola de cristal é das boas.
            Volto em breve. 😀
            E vc, tudo bem contigo?
            Beijão

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          • Vivendo as dualidades de cada dia. As contradições (me apropriei do termo) da vida. Ups and downs… creio que viver é isso. Transitando entre alegrias, tristezas, vazios, plenitudes, resignificações (essa última é termo da conscienciologia aplicada por um grande amigo e filósofo), entre contextos onde tudo aconteceu para outros onde projetamos tudo o que irá acontecer, nem sempre como realmente desejamos. Estou bem menina, vivo e com saúde. Tenho amigos, tenho a mim mesmo e uma filha maravilhosa. Não há o que reclamar. Os sentimentos, esses que nos são tão caros as vezes, que nos iludem com doses de aparente infinitude, entram para o rol de contradições a serem superadas. Não morrerei por eles, embora morrerei com eles fazendo parte da minha hominizante construção. Tudo bem comigo sim, acredite. Mesmo quando não estou certo disso. Enfim, espero que amanhã sejam dias ainda melhores para você, pessoa que brilha sem precisar ser estrela, que doa sem precisar nada em troca, que desenha alma, amor, vida, sentimentos, razão e tudo mais de forma literária e bela. Falta-nos sua presença, não tenho dúvida. Mas… quem mais precisa de você, mais do que nós, é seu Eu. Cuide dele e estará cuidando de cada um dos seus amigos, amores e tudo mais. Não desapareça, mesmo sumindo. Bjos

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          • Viiixe, quanta coisa linda.
            Agora só queria um abraço apertado e sem pressa. 🙂
            Vc é papai de uma garota. ❤
            Parabéns! Adorei saber.

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          • Sim, sou pai de uma garota de 22 anos, dona de seus passos, escolhas e facilmente amável. Sou amigo dessa garota. Amo incondicionalmente ser os dois, pai e amigo da Vic, minha melhor parte.

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